O DOM ESPIRITUAL DE FALAR LÍNGUA E O DOM ESPIRITUAL DE INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUA (PARTE 1)

Isaias Andrade Lins Filho, Pastor da IB dos Mares, Salvador, Bahia.

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Reconheço de logo que para trazer este assunto nos arraiais batistas, é preciso estar revestido de humildade, de muita tranquilidade e de uma dose elevada de coragem. Sob pena de não ser taxado Levianamente, de ser um pastor integrante de outra denominação, mas como disse, o revestimento de tranquilidade se apresenta forte, não pelo que eu penso, ou pelo que vou aqui expressar, mas porque é a Palavra do Senhor quem fala mais alto neste momento, trazendo tranquilidade e paz acima de qualquer ideia ou pensamento do mais eminente doutrinador. De início destaco que prefiro ficar com a inerrância da Palavra de Deus, do que com o que pensa ou deixa de pensar qualquer ilustre professor ou pensador, teólogo ou não, haja vista que se esteio é bíblico, é difícil de ser modificado, ademais porque eu também sou professor e teólogo.

 

A expressão “variedade de línguas” com alusão a um dos Dons Espirituais, diz respeito a algo sobrenatural, duma língua ou línguas nunca estudadas pela pessoa que fala, pois trata de uma palavra anunciada ou proferida pelo poder do Espírito Santo, que não é compreendida por quem fala, e usualmente é também incompreensível pela pessoa que a ouve.

 

Não preciso requisitar a intervenção de filólogos, nem tampouco de exegetas e/ou de experts em glossolalia, para ler com calma e trazer para os amados leitores batistas ou não, o texto do verso 2: “O que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios”. Qual é a dúvida? Nenhuma. Se não fala aos homens é porque fala algum idioma inteligível aos homens. Em algum lugar poderia estar alguém, algum homem ou mulher poliglota, que falasse diversos idiomas e então esta pessoa iria entender as expressões que foram proferidas. Ademais, o texto conclui dizendo: "Porque em espírito fala mistérios". Existe algum idioma que é falado em espírito e em mistérios?

 

Amados, eu sei que o Dom de Línguas é na classificação de Paulo o Apóstolo, o mais insignificante dos Dons Espirituais (1Co 14.19). O Apóstolo salienta que: “Todavia na igreja eu antes quero falar cinco palavras com meu entendimento, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em línguas...”. Observem que a clareza é solar, quem fala idiomas, fala com entendimento, pois quando eu falo, por exemplo, inglês ou espanhol estou sabendo o que estou dizendo, senão que seria de mim quando viajo para outros países? Outro fato a destacar é que, quem fala idiomas inteligíveis junto de pessoas que nunca estudaram tais idiomas, ouvindo a pessoa dizer "I love you", amanhã ou depois vai saber e ser instruído de que a expressão dita e repetida significa "eu te amo". Todavia, se é língua espiritual, como diz a Palavra de Deus, “ninguém o entende...”.

 

Amados leitores, como se vê, não existe qualquer dificuldade na hermenêutica e na exegese deste texto, mas querer negar que existe o Dom Espiritual do Falar em Língua, ninguém pode negar. Isso porque a Bíblia é que diz que existe e ensina assim, mesmo sendo insignificante numa percentagem ínfima absurda, de cinco palavras inteligíveis para dez mil palavras ininteligíveis. Mas o Dom existe, e se é Dom do Espirito quem concede é o Espírito. E alguém dizer que não existe, chegando ao extremo de dizer que “os dons já cessaram” e assim querer negar a evidência deste Dom, não vai eliminá-lo da vida do povo de Deus. O que também não é verdade, pois se tivessem cessado não estaríamos tão interessados em estudar e desejando aprender sobre os mesmos, e sobretudo porque só cessará quando vier o que é perfeito (1Co 13.8-10).

 

Outro aspecto a ser considerado é que quando se fala língua, para que alguém o entenda, alguém tem de traduzir. E não é preciso que se explique que existe grande diferença do significado da palavra INTERPRETAR e da palavra TRADUZIR.

 

O pastor Russel Shedd, respeitado pastor e teólogo, nas palavras explicativas constantes da Bíblia Shedd, ensina claramente, e eu também sempre assim entendi, que as línguas (glõssõn), Estáticas, às vezes misturadas com línguas conhecidas. Geralmente precisam do dom de interpretação para interpreta-las (cf cap 14) (grifo nosso).

 

Para se interpretar essa língua em mistérios, faz-se necessidade da intervenção do Dom Espiritual de Interpretação de Língua, coisa que o professor de línguas estrangeiras não resolve, vez que não se trata de traduzir, não se trata de uma tradução, e sim de interpretação. Porque ninguém o entende, a solução para a questão só poderá acontecer através de alguém que tenha sido capacitado pelo Espirito Santo de Deus e dEle recebido o Dom para fazê-lo.

 

O Dom Espiritual de Falar Línguas não pode ser racionalizado pelos homens, tampouco os homens podem querer transformar este Dom em aptidão natural do ser humano. Ninguém aprende a falar em línguas espirituais como certa feita, assisti recentemente pela televisão um pregador querendo ensinar aos telespectadores a falarem em línguas. Este assunto tem trazido polémicas, divisões? Tem sim, mas a concessão de Dons Espirituais e, ou, a ação dos Dons Espirituais na vida da Igreja nunca poderá ser para dividir, mas sim para o objetivo a que se propôs quando concedido, o qual é a edificação do Corpo de Cristo que é a Igreja.

(Este tema continua na edição 34 de 018).