OS LOUVORES
DO DIABO
Por Pr.
Wagner Antônio de Araújo*
Artigo
publicado no jornal “Batista Paulistano”, Novembro e Dezembro/2005.
Pr. José
Antônio Corrêa
Ah, se o nosso discernimento fosse
apurado! Evitaríamos tantos dissabores! Mas, que se há de fazer?
Jesus disse que Judas Escariotes era
filho do diabo. Chamou-o também de diabo e filho da perdição. Até Pedro, certa
vez, foi identificado como Satanás, ao tentar convencer o Senhor de que o Seu
sacrifício poderia ser evitado. Assim, não estou cometendo nenhum erro ao
afirmar que o diabo está presente em nossa igreja. Aliás, em nossas igrejas,
pois nenhuma é melhor ou pior, quando realmente igrejas de Jesus. E o diabo
assiste em todas elas, na qualidade de joio no meio do trigo, ou Judas no meio
dos apóstolos.
E o que o diabo faz em nossas igrejas?
O diabo está lá para tumultuar, para
criar confusão, para iludir, para criar partidos, para corromper. E o seu papel
tentar os filhos de Deus. E como os tenta! Agora, a tentação, para ser tentação
que preste, tem que ser desejável, apetecível, pois, caso contrário, seria
muito fácil resistir a ela. Então ele vem disfarçado. Disfarça-se de gente de
Deus, de crente, de líder, de mulher, de adorador, e como se torna atuante!
Quais as coisas que o diabo gosta de
fazer entre os crentes? Há coisas que ele faz para nos confundir. Coisas muito
boas, que nós fazemos também.
Ele gosta de canta! Ah, e como canta!
Em igrejas tradicionais ele exige milimetricamente que os hinos sejam cantados
e entoados corretamente. Ele canta, às vezes sabe tudo de cor! Em igrejas
pentecostais ou comunidades, ele vibra, pula, canta, chora, ele é o mais
entusiasmado do auditório. Às vezes até inventa novos cânticos. Nos momentos
emotivos dos hinos, ele chora, levando as pessoas próximas também às lágrimas.
Se for o dirigente, então, nem se fala: o louvor é fenomenal - todos ficam
sensibilizados.
Ele gosta de falar. Ele conhece muito
bem a bíblia, e sabe aplicá-la perfeitamente! Sabe o endereço de textos
difíceis e sabe usá-los com extremo cuidado e sabedoria. Quando aconselha a
alguém, faz uma verdadeira pregação “à la carte”, distante, mas profunda. Ele
gosta de concorrer em concursos bíblicos, gosta de decorar salmos inteiros,
aprende com facilidade lições para ensinar na Escola Dominical, anota tudo para
não esquecer. Sua bíblia é bem marcada e demonstra ser muito bem usada.
Ele está sempre pronto a fazer alguma
coisa em prol da igreja ou em prol do líder. Se precisarem dele para trabalhar
com favelados, ele é o primeiro da lista. Se tiver vigília, ele não faltará.
Quando houver reunião de líderes, ele estará sempre presente. Não tem tempo
ruim para o trabalho de departamento ou de igreja. Ele distribui folhetos,
participa de cultos ao ar livre, ajuda a fazer palhaçadas nas atividades com a
criançada do bairro, faz viagem missionária, coloca sua casa à disposição dos
cultos, enfim, é totalmente ativo. Se canta, canta em todos os coros e
conjuntos. Se fala, procura sempre uma brecha para dar uma palavrinha. Se ouve,
é o mais atento de todos.
Ele chora, ah, como chora! É por
demais emotivo! E são emoções fortes, sentidas! Quando ora, suas palavras calam
fundo nos corações. Gosta de conversar com as pessoas. Ele é tido como alguém
realmente tocado pela emoção, um animador! Nos cantos congregacionais, nos
cultos da comunidade, consegue dar um colorido especial às reuniões. Quem olha
para ele diz: Que pessoa fabulosa!
Alguém me perguntaria: as pessoas que
são assim são o diabo?
E eu responderia: Não. Pessoas assim
são o sonho de toda igreja e o desejo de todo pastor. Eu só estou citando as
coisas que o diabo TAMBÉM faz.
Para saber quem é o diabo em nossas
igrejas precisamos avaliar O QUE O DIABO NÃO FAZ DE JEITO NENHUM, pois somente
assim o descobriremos sem erro, com extrema precisão.
O diabo não vive o que canta. Ele
canta bonito, canta afinado, canta com beleza, mas é um hipócrita. Ele canta
que se deve amar, mas ele mesmo não ama. Todas as suas bondades são
interesseiras, fruto da cobiça, visando interesses pessoais. Ele canta
louvores, mas nunca agradeceu verdadeiramente a Deus nem por uma xícara de
café. Ele não é coerente. Canta que se deve ter fé e não tem. Canta que se deve
perdoar e não perdoa. Ele é um mentiroso. Seus cânticos são para aparecer, para
mostrar voz, para fazer sucesso, para gravar CDs, para ser louvado. Canta
puramente por profissão, ou por costume. O seu cântico é bonito, mas não tem
vida, não é louvor. Ele emociona o auditório, mas não muda corações, não
transmite nada, não tem unção do Espírito Santo.
O diabo só fala e
nada faz. Ele é um impostor. É muito bom na teoria; talvez não exista alguém
mais bem preparado do que ele para falar de seitas, de doutrinas, de céu, de
inferno, de usos e costumes. Ele tem uma lábia de fazer inveja. Fala e fala
bonito. Num debate não tem pra ninguém vence todos! Mas quem mora com ele sabe
que tudo não passa de fachada, de mentira, de hipocrisia, de casca. Ele veste
uma capa de cristão para ir à igreja e a tira quando retorna. Ele diz que não
se deve beber, e bebe. Ele diz que não se deve amaldiçoar, e amaldiçoa. Ele diz
que não se deve adulterar, e adultera. Ele diz que não se deve deixar de
dizimar, e não dizima. Ele é um joio, um falsário, um farsante. Em teoria é 10,
em prática é 0, e com louvor!
O diabo é um
ativista, mas não é um servo. Ele faz muito sim, mas faz para si próprio, pois
não tem a menor consciência de estar servindo ao Senhor. Ele serve à igreja, ao
pastor, à diretoria, à família, ao programa, mas jamais serviu a Deus. Deus não
faz parte de suas prioridades. Ele faz da igreja um palco, já que não obteve
sucesso nos palcos da vida. Ele quer ser na igreja o que nunca pôde ser
enquanto trabalhador ou membro da família. Quer provocar medo nos mais novos,
espanto nos mais velhos, acha que ganhará respeito trabalhando como um doido,
criticando os jovens, corrigindo os idosos, insultando ao ministro da igreja.
Marta ainda fazia café para Jesus no dia em que o hospedou ao lado de sua irmã
Maria, mas esse diabo nem sabe o que é ou quem é Jesus. Jesus é apenas um
detalhe, um pretexto. Gosta de ver seu próprio nome nas listas de diretoria,
nos jornais, nas revistas, gosta de ser citado e tudo faz para se destacar. Mas
ele não conhece a Cristo, seu trabalho é absolutamente vão, ele já está
recebendo a sua recompensa.
Por fim, suas lágrimas não são
sinceras; são lágrimas de crocodilo, falsas como uma nota de 6 reais. Chora
fácil, é capaz de fingir como um artista experiente. Ele é digno de um Oscar!
Consegue simular muita emoção junto de um irmão e em seguida atender a um
telefonema com completa alegria e desembaraço, como se nada tivesse acontecido.
Ele mente. Mente o amor para com o cônjuge, pois é capaz de jurar amores e
traí-los em seguida. Mente para o namorado, fazendo juras e postando
declarações ilusórias, para, em seguida, mostrar-se traiçoeiro(a). Mente aos
filhos, porque ordena-lhes que sejam o que nunca foram e nem serão. O diabo
chora quando tem que pedir perdão, mas faz tudo igual em seguida, e cada vez
pior Sua mente está cauterizada, seu coração endurecido, sua alma perdida e sua
vida estragada. O diabo é absoluta e totalmente INGRATO, e faz questão que o
cônjuge (ou ex) saiba disso.
O diabo pode fingir
os dons espirituais, mas jamais poderá simular o FRUTO DO ESPÍRITO. Ele pode
simular os chamados dons de sinais, pode derrubar todo um auditório com o poder
de um sopro ou fazer pessoas manifestarem supostos “encostos”, pode até curar
supostas enfermidades, pode manifestar carismas imensos, mas é incapaz de amar
de verdade, ter paz e transmitir a paz, desenvolver paciência, ser bom e
benigno, ter domínio próprio ou ser fiel. Ele é um blefe. Ele é como um show
pirotécnico, muitos efeitos, mas totalmente inócuos, sem a menor consistência,
de nenhuma duração.
Não é nas coisas que faz que o diabo
se faz conhecido. É NAQUELAS QUE NÃO FAZ! Por isso temos tanta dificuldade em
identificá-lo, pois pensamos: “Ele canta, ele ora, ele participa, ele
chora...”, quando as perguntas deveriam ser: “Ele é real? Ele é sincero? Ele
ama? Ele perdoa? Ele é leal? Ele é capaz de falar comigo olhando para os meus
olhos? Ele reage como um crente? Ele é autêntico?”.
Se você estiver procurando diabos em
quem está fazendo alguma coisa, estará procurando no lugar errado e da forma
errada. Jesus nos mandou não julgar, não procurar ciscos nos olhos dos outros.
Mas leve a sua igreja à santificação, à consagração, leve o seu povo a um
compromisso sério de ouvir e cumprir, de cantar e praticar, de sentir e agir,
de ser carta aberta e gente sem segredos, e o diabo irá aparecer. Mais dia,
menos dia, ele se manifestará. E não estrebuchará no chão, fazendo espetáculo:
ele sairá fuzilando, irado, irritado, nervoso, atirando para todo lado. Pode
ser que ele esteja disfarçado de linda e insinuante mulher, toda maquiada e
perfumada. Ou num elegante homem de negócios, trajado socialmente dentro da
mais fina moda. Talvez na pele de uma conceituada profetiza, de voz meiga e
carinhosa, ou numa família dominadora. Pode surgir num jovem simulado, que faz
muita pose no louvor, mas que é pura casca, ou mesmo num pastor, que fala
bonito, mas que não vive o que prega, que só está interessado em fazer a igreja
crescer, não fazê-la ser santa.
E se você ver o diabo, (e estou falando
do diabo-pessoa, diabo-gente, diabo-ser humano, como Jesus falou), ore por ele,
para que seja convertido. Ele é servo do Diabo o arqui-inimigo do povo de Deus.
Os dias de Satanás estão contados, e ele faz tudo para destruir a Igreja do
Senhor, Não vamos dar trégua - vamos resistir ao diabo, não com as armas das
trevas, com ira, com ódio, com vingança, com maldições, com bate-bocas, com
socos e pontapés. Vamos resistir ao Diabo, sujeitando-nos a Deus, orando pelo
próximo, não fazendo o seu jogo de hipocrisia. Agindo assim expulsaremos o
Maligno. Não fazer a vontade do inimigo já é meio caminho andado. Se a tentação
não tiver adeptos, ela murcha. Vamos secá-la!
“Sujeitai-vos a Deus, mas resisti ao
Diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4,7)
*Pr. Wagner Antônio de
Araújo
Igreja Batista Boas
Novas, Osasco, SP.
bnovas@uol.com.br