TERCEIRO CAMINHO – A ROTA DO NAVIO NO MAR

PV 30.18-19

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Texto: "18 Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que não conheço: 19 o caminho da águia no ar, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar, e o caminho do homem com uma virgem".

 

INTRODUÇÃO:

1. No capítulo anterior, tivemos o privilégio de ver como a serpente se arrasta pela rocha sem deixar qualquer marca. Além disso, ela faz da fenda da rocha lugar de abrigo e esconderijo, longe do alcance dos predadores, além de se posicionar para um possível bote. Como cristãos que caminhamos pela Rocha, que é Cristo. Precisamos viver neste mundo sem deixar marcas de uma vida desonesta, de um mal testemunho, mas sobretudo, marcar o local por onde passamos com uma vida que glorifique o nome do Deus a quem servimos! Não podemos ser "pedra de tropeço", para aqueles que convivem conosco e nos observam! Devemos influenciar vidas, vivendo retamente diante deste mundo! Não desprezemos ainda, o fato de que temos na Rocha Eterna, lugar de abrigo, esconderijo e defesa, num mundo permeado por incontáveis e intensos perigos.

2. No presente capítulo, queremos observar o caminho do navio no mar, outra fonte simbólica de recursos espirituais inesgotáveis! Quem nunca se imaginou fazendo um cruzeiro marítimo desfrutando das delícias advindas de tal pretensão? Com certeza, muitos de nós pagaríamos, se pudéssemos, o devido preço para um passeio como este! Porém a rota do navio no mar poderá apresentar incontáveis perigos para os navegantes, como tempestades, rochas submersas, icebergs, etc..

3. Neste capítulo queremos focalizar as aplicações simbólicas do caminho percorrido pelo navio no oceano:

 

I – A ROTA DO NAVIO NO MAR NOS FALA DA DEPENDÊNCIA DO FILHO DE DEUS

1. Sabemos que o caminho do navio no mar está sujeito aos mais intensos perigos. Dois deles devem merecer especial atenção: as rochas submersas e as tempestades. Tanto um como a outro podem levar uma embarcação a pique.

2. Para que uma embarcação marítima possa seguir sua rota frente aos perigos acima, ela precisa ter em sua direção um bom comandante e uma equipe experiente, que conheça todos os segredos e truques que possam livrar a embarcação de situações de riscos e possíveis danos e perdas, tanto humanas, como também materiais. A embarcação fica dependente da experiência! Assim também, como cristãos estamos sujeitos aos ataques satânicos com objetivos definidos, de nos afundar na lama do mundo. Em razão disto, precisamos ser dependentes de nosso comandante – Jesus Cristo! Com certeza, estes reais perigos nos sugerem a dependência de Deus! Por estarmos sujeitos às artimanhas do diabo, que podem minar nossa fé cristã, precisamos nos lançar à oração, buscando intimidade com Deus e sua Palavra, caso contrário sucumbiremos diante dos laços, emboscadas e armadilhas demoníacas. Quantos há que já afundaram por embarcarem nas insinuações do diabo!

3. A Palavra de Deus nos ensina como deve ser a nossa dependência do Senhor:

a) Dependência de Deus, não do homem, "Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, e se estribam em cavalos; e têm confiança em carros, porque são muitos; e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos; e não atentam para o Santo de Israel, e não buscam ao SENHOR", Is 3l.1. Esta profecia foi transmitida por Isaías num tempo em que a nação de Judá aterrorizada pelas ameaças inimigas, faziam alianças com os egípcios – um povo forte e preparado belicamente, na tentativa de tê-los como aliados na iminente guerra. Achavam que a batalha seriam vencida se estivessem devidamente aparelhados com aliados poderosos, exército forte, muitos cavalos, carros, hábeis cavaleiros, etc.. Este é o erro de muitos filhos de Deus! Preferem confiar em homens, no dinheiro, num bom emprego, etc., quando deveriam depender exclusivamente do Deus de poder!

b) Dependência paciente, "ESPEREI com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor", Sl 40.1. Quantas vezes o socorro é lento! Aparentemente nunca chega! Há aqueles que querem um Deus que aja como relâmpago, como num passe de mágica, vindo com socorro imediato! Porém Deus intervêm no tempo certo! Quando aparentemente Deus retarda, existem crentes que entram em desespero, chegando até mesmo à loucura, desacreditando de tudo e de todos. Observe que o salmista "esperou com paciência" e no tempo certo "Deus ouviu o seu clamor". Aprendamos a esperar em Deus!

c) Dependência confiante, "Em Deus louvarei a sua palavra, em Deus pus a minha confiança; não temerei o que me possa fazer a carne", Sl 56.4. Aquele que confia plenamente em Deus, jamais permitirá que o medo domine sua vida. O medo demonstra falta de confiança em Deus! Note como o salmista diz confiantemente: "...não temerei o que me possa fazer a carne". "Carne", neste contexto é uma alusão àqueles que se colocam como nossos inimigos e intentam o mal contra nós. Na dependência confiante teremos vitória! "Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou", Rm 8. 37.

d) Dependência independentemente da circunstâncias, "Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares", Sl 46.2. Mesmo em situações caóticas, avassaladoras, quando parece que tudo está perdido, precisamos nos colocar debaixo do cuidado de Deus, que certamente nos guardará. Não podemos deixar que as circunstâncias nos atinjam. Devemos andar não pelo que vemos, mas pela fé no Deus que é maior do que nossas dificuldades. No dizer de Paulo "...andamos por fé, e não por vista" (1 Co 5.7) e devemos "crer contra a esperança", como Abraão – "O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência", Rm 4.18.

4. Vamos depender de Deus, independemente das circunstâncias que nos atingem!

 

II – A ROTA DO NAVIO NO MAR NOS FALA DA DIREÇÃO DO FILHO DE DEUS

1. Nos tempos bíblicos, toda embarcação marítima para traçar uma rota certeira, dependia da direção do sol – instrumento este, indispensável para qualquer viajante do mar. Embora hoje os navios não dependam mais deste rudimentar sistema de navegação, tendo em vista os avançados meios comunicação que estão ao nosso dispor, nos dias de Salomão sem observar a trajetória do sol, não se chegaria a lugar algum.

2. Assim como o navio dependia da observação do sol para traçar sua rota, como filhos de Deus não podemos caminhar neste mundo sem a direção do Todo-Poderoso. Quando Deus não dirige nossos passos, caminhamos sem direção, vagando de um lado para outro, desorientados! Não podemos esquecer que os caminhos, muitas vezes trilhados por nós, não são os caminhos de Deus. Assim expressou Isaías pela boca de Deus: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR", Is 55.8. Preciso descobrir qual é o caminho de Deus para minha vida, pois só assim andarei seguro!

3. Como a Palavra de Deus nos ensina a verdadeira direção divina? Vejamos:

a) Direção pela coluna de nuvem no deserto, "Todavia tu, pela multidão das tuas misericórdias, não os deixaste no deserto. A coluna de nuvem nunca se apartou deles de dia, para os guiar pelo caminho, nem a coluna de fogo de noite, para lhes iluminar; e isto pelo caminho por onde haviam de ir", Ne 9.19. O contexto desta passagem nos mostra o povo de Deus nos dias de Neemias fazendo uma oração de arrependimento e confissão de pecados. O olhar deles se volta para trás, para os dias de caminhada no deserto, quando a presença constante de Deus ia adiante deles na "coluna de nuvem". Esta coluna de nuvem fazia sombra durante o dia, amenizando o calor escaldante do deserto, mas durante à noite se transformava numa "coluna de fogo", para iluminar o caminho por onde deveriam passar. Era a presença constante de Deus entre eles!

b) Direção em virtude da onipresença divina, "7 Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? 8 Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. 9 Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, 10 Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá", Sl 139.7-10. Como servos do Deus Altíssimo, temos a consciência de que dEle não podemos fugir, nem nos esconder. Sua presença está em todos os lugares ao mesmo tempo! Todavia, algo notável é que, onde quer que estejamos, temos a promessa de que "...ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá", v. 10. Ou seja nosso sol é o Senhor! Ele jamais deixará que seus servos fiéis fiquem à deriva neste mundo dominado e controlado pelo "senhor das trevas" – o diabo.

c) Direção nas verdades da Palavra, "Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir", Jo 16.13. Num mundo dominado por "...filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens...", Cl 2.8, os cristãos legítimos podem desfrutar da iluminação do Espírito Santo quanto ao esclarecimento das verdades eternas da Palavra de Deus. Somente será preso por tradições, filosofias humanas e diabólicas aqueles que não buscarem a dependência do Espírito de Deus.

4. Se o sol era um elemento indispensável para os marinheiros, o Senhor Deus é indispensável na direção daqueles que receberam o reino de Deus em seus corações. Sem o guiar de Deus, perecemos!

 

III – A ROTA DO NAVIO NO MAR NOS MOSTRA AS INTEMPÉRIES DO FILHO DE DEUS

1. Já vimos que a rota do navio no mar está sujeita aos mais intensos perigos, como a ameaça de rochas submersas e a exposição às tempestades marítimas. São as intempéries comuns aos navegantes! Quantas embarcações marítimas estão no fundo dos oceanos vitimadas pela fúria das águas atingidas por tempestades! Um desastre que não podemos nos esquecer ocorreu com o Titanic, o maior, o mais moderno, o mais possante navio de seu tempo! Embora seus construtores achavam que nem mesmo Deus o poderiam afundar, em sua primeira viagem, ele foi para o fundo do mar ao ser atingido por um iceberg, matando a grande maioria de seus ocupantes. Isto também se aplica simbolicamente aos filhos de Deus, e tem a ver com a vida conturbada que levamos neste mundo tenebroso.

2. Quando recebermos a Palavra de Deus em nossos corações, não significa que agora ficaremos isentos de problemas e dificuldades. Pelo contrário, é possível que haja até uma intensificação nas tribulações. É comum o novo convertido sofrer pressões de seus familiares, amigos, patrões, etc., devido à sua nova posição e comportamento. Quantos há que desistem da fé quando são atingidos por tribulações logo no início de sua nova vida em Cristo. Na parábola do semeador, somos alertados pelo Senhor deste fato: "20 O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria; 21 Mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofende", Mt 13.20-21.

3. Olhemos para a Palavra de Deus e vejamos como tribulações e sofrimentos afetam o filho de Deus:

a) O alerta do Senhor, "Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo", Jo 16.13. Jesus não queria que seus discípulos ficassem desinformados acerca das tribulações que certamente sofreriam. Porém mostrou-lhes que acima dos sofrimentos, das angústias, eles poderiam contar com a paz interior proporcionada pelo Senhor àqueles que são engajados em sua obra. Devemos suportá-las com ânimo, na confiança de que o se Senhor foi vitorioso contra o mundo, temos também a garantia da vitória!

b) A consciência de Paulo, "Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada", Rm 8.18; Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo", 2 Co 1.5. O apóstolo Paulo, viveu em sua carne tremendas dificuldades, perseguições, afrontas, etc.. Todavia, em seu coração havia uma certeza: "...as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada". Embora possamos viver neste mundo debaixo de contrariedades, aparentes frustrações, desilusões, podemos ter a convicção de que o melhor nos está preparado pelo Senhor em sua glória! Muito mais ainda, sejamos convictos da "abundante consolação" que recebemos do Espírito de Deus pelas tribulações que sofremos.

c) Devemos ser co-participantes delas, "Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus", 2 Tm 1.8; "Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo", 2 Tm 2.3. Aqui Paulo convida o jovem Timóteo a que não fique de fora, olhando apenas como espectador os seus sofrimentos, mas que deles se torne um participante. Ele usa duas expressões que implicam em envolvimento: "participa das aflições" e "sofre comigo". Isto implica no fato de que ao vermos alguém sofrendo em razão de seu ministério em Cristo, devemos nos associar a ele sendo solidários às suas aflições. No reino de Deus não existem meros espectadores, mas co-participantes, vidas entrelaçadas, numa aliança entre nós, e com o Senhor!

d) Normalmente, elas tem o dedo do diabo, "8 Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; 9 Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo", 1 Pe 5.7-9. Nesta passagem das Escrituras, nos fica claro que o grande autor das perseguições e tribulações contra os filhos de Deus é o diabo, nosso adversário. Ele deseja nos impor sofrimentos, tentando nos colocar fora de combate! Mas, observe como Pedro nos adverte: "Ao qual resisti firmes na fé...". Sejamos resistentes ao diabo em nome de Jesus Cristo e certamente o venceremos!

 

CONCLUSÃO:

1. Como pudemos ver, na rota percorrida pelo navio no mar, há pelo menos duas aplicações que podem nos ensinar princípios de vida importantes.

a) Assim como o navio precisa de um bom comandante para dirigi-lo, alguém que conheça os perigos do mar, do qual depende toda a tripulação e os passageiros, assim também, como filhos de Deus, dependemos de nosso comandante, Jesus Cristo, para escaparmos da corrupção que há no mundo;

b) Assim como o navio está sujeito às tempestades e outros perigos que podem levá-lo a pique, devemos entender que ao nos tornarmos crentes pelo sacrifício de Cristo, não ficamos imunes, isentos das tribulações que há no mundo. Pelo contrário, como vimos, até é possível que estas tribulações sejam intensificadas.

2. Que aprendamos estes princípios sugeridos pela rota do navio no mar!