QUARTO CAMINHO – O NOIVADO DO HOMEM COM UMA VIRGEM

PV 30.18-19

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Texto: "18 Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que não conheço: 19 o caminho da águia no ar, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar, e o caminho do homem com uma virgem".

 

INTRODUÇÃO:

1. No capítulo anterior tivemos a oportunidade de ver as aplicações que podemos extrair da rota do navio no mar. Dentre muitas delas, vimos que qualquer embarcação precisa de um bom comandante e de uma tripulação responsável, que conheça os reais perigos do mar, perigos estes que podem levar um navio a pique; vimos ainda que os navegantes, principalmente aqueles que viveram no tempo de Salomão, para traçar uma rota certeira, dependiam da direção do sol. Nós também, como crentes em Cristo, dependemos da direção de Deus Eterno para poder caminhar neste mundo cheio de armadilhas! Com certeza estamos sujeitos a muitas situações reais de perigo criadas pelo inimigo. Para nos safar delas, precisamos cultivar uma intimidade com o Senhor, através da leitura da Palavra e da oração. Não nos esquecendo também das tribulações, às quais estamos sujeitos, e até mesmo, dependemos delas para nosso crescimento espiritual.

2. Agora, no presente capítulo, desejamos analisar outra situação da qual também podemos extrair inúmeras lições de vida – o noivado do homem com uma virgem! Certamente há muito o que aprender ao observarmos o comportamento tanto do noivo como da noiva no pré-relacionamento para o casamento. É uma situação que se não for vivida com sabedoria e discernimento, poderá marcar a vida do casal para sempre, prejudicando inclusive a família futura. Além do mais, se o casal não se comportar dentro dos princípios da santidade e pureza, o relacionamento com Deus será traumático, deficiente.

3. Vejamos as aplicações do relacionamento do homem com uma virgem e suas implicações para os filhos de Deus:

 

I – O NOIVADO DO HOMEM COM UMA DONZELA NOS MOSTRA PUREZA

1. Esta palavra vem do termo hebraico "rb - bor" e do grego "agneia - hagneia" e tem a ver com "castidade", "inocência", "limpeza". No Velho Testamento esta palavra estava ligada aos rituais de sacrifício; já no Novo Testamento, ela tem a ver com aquele que se conserva "puro", "casto", "isento" de um comportamento sexual inadequado para um filho de Deus. Tem a ver com nossa vida sexual.

2. Na verdade, o filho de Deus é assediado, bombardeado, influenciado, por uma gama de material explicitamente pornográfico. Em todos os meios de comunicação podemos ver as tendências e apelos ao sexo! Podemos observar tal tendência nas revistas do ramo, expostas sem quaisquer critérios nas bancas de jornais, ou pela televisão nos programas de "Gugu", "Fautão", "Adriane Galisteu" entre outros do ramo, que na ânsia por alguns pontos a mais na audiência, primam por exibir mulheres seminuas que coram nosso rosto de vergonha! E, por incrível que pareça, até mesmo nas propagandas televisivas, jornalísticas, etc., há vasto material que induz a fantasias e apelos sexuais, onde homens e mulheres expõem seus corpos "sarados", com "tudo em cima", na linguagem dos esperts no assunto, na tentativa de vender bebidas, alimentos, remédios, produtos dietéticos, etc., etc., etc.!!!

3. Diante deste quadro, devemos nos reportar à Palavra de Deus que nos exorta a fugir e nos abster das contaminações mundanas. A impureza se manifesta:

a) Nas "obras da carne", "Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia", Gl 5.19. Dada a importância e relevância que as Escrituras dão a este tipo de pecado, ele aparece nesta lista de Paulo como "obra da carne manifesta" e que precisa ser combatida sob o risco de trazer contaminação para o filho de Deus.

b) Nos homens sem Deus, "Os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza", Ef 4.19. É no meio anticristão, naqueles sem a graça de Deus, que este tipo de pecado tem livre curso. Note como o apóstolo é enfático: "...para com avidez cometerem todo tipo de impureza". Podemos ver pelo que Paulo diz, que há vários tipos de impurezas. É um pecado com várias facetas que se desdobra a todo tipo de gosto maligno! Impurezas nas relações sexuais, impurezas no relacionamento com Deus, impurezas nos relacionamentos humanos, etc., fazem parte daqueles que vivem alienados da família de Deus.

c) Ausente nos filhos de Deus, "Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos", Ef 5.3. Trata-se de um pecado tão desprezível, que Paulo alerta: "...nem ainda se nomeie entre vós...". Aquele que é santificado pela graça e poder de Deus, deve extinguir de sua vida todo e qualquer vestígio de impureza. Aqueles que são íntimos da impureza não são candidatos ao reino; não "...tem herança no reino de Cristo e de Deus"! "Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus", Ef. 5.5.

Como cristãos devemos mortificar nossos membros para dela ficarmos livres. "Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria", Cl 3.5. Observe que a "impureza", sempre está colocada entre os pecados de natureza sexual. Devemos mortificar nossos impulsos sexuais pecaminosos, se de fato quisermos ser isentos da impureza. Caso contrário, dela certamente seremos servos!

4. Não podemos perder de vista o fato de que a Palavra de Deus nos exorta a nos mantermos puros. Este foi o conselho de Paulo a Timóteo, seu filho na fé: "...conserva-te a ti mesmo puro", 1 Tm 5.22. Vivamos a fé cristã mantendo uma vida pura, diante de um mundo corrompido e devasso!

II - O NOIVADO DO HOMEM COM UMA DONZELA NOS MOSTRA COMPROMISSO

1. Outra particularidade importante no noivado do homem com uma donzela, pode ser observada no "compromisso" que envolve este relacionamento. Quando o casal assume a posição de noivos, inaugura-se uma nova fase! A colocação das alianças implica em assumir uma nova posição, onde os preparativos para o casamento passam a ser uma constante. Se aquele casal conhece de fato o que significam as alianças, dali para a frente tudo fica mais sério, comprometedor.

2. Assim também, como cristãos genuínos, não podemos descartar que precisamos ter um compromisso sério com o reino de Deus e com o Senhor Jesus. Crentes descompromissados, desinteressados jamais poderão ser úteis para Deus. Deus quer arregimentar em suas fileiras vidas que estejam dispostas a guerrear, lutar, fazendo de tudo para que o seu reino seja implantado na terra. Não podemos perder de vista, o fato de que Deus quer que sua vontade seja implantada na terra, assim como ela é realidade nos céus – "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu", Mt 6.10. Para que esta verdade seja um fato, Deus precisa de nós!

3. Consideremos o que Palavra de Deus nos fala sobre compromisso:

a) Aquele que lança mão do arado, "E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus", Lc 9. 62. A figura do arado era muito conhecida nos dias de Cristo. Todo aquele que almejava uma boa colheita, sabia que precisava preparar devidamente a terra para receber as sementes. Uma terra mal preparada, não arada corretamente e no tempo certo, não estaria apta para produzir uma boa colheita. O agricultor que não levasse a sério a preparação da terra, certamente ficaria frustrado no tempo de colher os frutos. Nós também, como filhos de Deus, estamos engajados na "seara do Senhor" e precisamos nos envolver nela com tudo o que temos e somos, na expectativa da grande colheita do reino. Não fiquemos indiferentes, sabendo que Deus exige urgência! "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa", Jo 4.35.

b) Obrigação imposta, "Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!", 1 Co 9.16. Paulo foi um homem inteiramente compromissado com a obra de Deus. No presente versículo, podemos observar como ele encarava o trabalho do reino. Ele coloca sua função como algo imposto pelo Senhor - "...pois me é imposta essa obrigação...". Também sabia que sua negligência poderia lhe custar muito caro. Daí, sua veemente exclamação: "...ai de mim, se não anunciar o evangelho!" Da mesma forma, Deus confiou a mim e a você, os oráculos de seu reino, os quais devem ser expostos àqueles que não conhecem a vida eterna, na esperança de que se convertam de seus maus caminhos e sirvam ao Deus Vivo.

c) Como despenseiros dos mistérios de Deus, "1 QUE os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. 2 Além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel", 1 Co 4.1-2. A palavra "despenseiros", vem do grego "oikonomov - oikonomos" e significa: "administrador", "superintendente", "aquele a quem o senhor da casa confiava a administração", "o administrador de uma fazenda ou propriedade territorial". Pelas palavras de Paulo entendemos que Deus nos colocou neste mundo como seus "despenseiros", encarregados de ministrar aos homens os princípios do reino. Porém, algo importante que o apóstolo frisou está na frase: "...requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel". Não existe compromisso sem fidelidade! Para termos o compromisso de trabalhar seriamente no reino, é necessário que sejamos fiéis, tanto em nosso relacionamento com o Senhor, como na exposição e defesa de sua bendita Palavra!

4. Assim como o noivado do homem com uma donzela envolve compromisso, nós também como herdeiros de Deus, estamos compromissados com seu reino! Caso contrário podemos ser imprestáveis, descartáveis!

 

III - O NOIVADO DO HOMEM COM UMA DONZELA NOS MOSTRA ESPERANÇA

1. Quando existe a troca de alianças na cerimônia de noivado, surge também a esperança do casamento que fica cada vez mais perto. A partir daquele momento, tanto o noivo, como a noiva começam a se preparar para o grande dia! Jamais alguém espera o dia do casamento com expectativa de uma frustração, algo odioso, ou qualquer coisa semelhante. Ao contrário, ansiamos por aquele dia e o momento mágico do "sim". Um clima de "esperança" do melhor, daquilo que bom, certamente nos envolve.

2. Da mesma forma, aqueles que são envolvidos com o Senhor e seu reino, vivem debaixo da "bendita esperança". Aguardamos "...a bem-aventurada esperança..." (Tt 2.13), na manifestação de Cristo e seu reino. A esperança é a mola mestre da fé cristã, e sem ela, podemos dizer convictamente que não haverá vida cristã. Se não há esperança, os valores do reino se tornam utopia, sonho irrealizável, fantasia; o cristianismo se desvanece numa invencionice humana, sem qualquer sentido de existência! Todavia, como filhos de Deus, magnificamos a esperança e a colocamos no patamar que lhe é devido.

3. Atentemos para a Palavra de Deus nos textos que ela nos fala sobre "esperança". Entre tantas outras coisas esperamos:

a) A redenção de toda a criação de Deus, "Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus", Rm 8.21. Sabemos que a maldição pela entrada do pecado atingiu toda a criação de Deus, conforme nos relata Gêneses 3.17: "E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida". Contudo, a Palavra de Deus nos fala de uma nova criação totalmente livre das maldições do pecado – "E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe", Ap 21.1. Nesta nova criação não entrará "...coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro".

b) A manifestação da justiça de Deus, "Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça, Gl 5.5. Vivemos num mundo onde a injustiça caminha a passos largos. O senso de justiça não existe nem mesmo nos altos escalões de nosso poder judiciário, onde podemos ver ações malignas de juizes corruptos e corruptores. O homem corrompe a justiça fazendo daquilo que é certo, errado e colocando o que é errado no lugar do que é certo! Porém, nós, como verdadeiros filhos de Deus, sabemos que chegará o tempo em que as posições invertidas serão revertidas para o seu devido lugar. Esta é a esperança daqueles que aguardam "novos céus" e "nova terra", onde haverá verdadeira justiça. "Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça", 2 Pe 3.13.

c) A nossa salvação, "Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação". A salvação da alma e a vida eterna é a nossa principal fonte de esperança. Embora aqueles que recebem Jesus já têm a garantia de vida eterna espiritualmente presente, chegará o tempo em que a provaremos fisicamente, "E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite", Ap 12.10. Veja o que diz Paulo: 1 Ts 5.8. "Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos", Tt 1.2.

d) O retorno de Cristo à terra para arrebatar sua igreja e julgar este mundo, "Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo", Tt 2.13. Outro foco de nossa esperança é, sem dúvida, o retorno do Senhor à terra para buscar sua igreja, inaugurar seu reino e julgar os ímpios, "Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras", Mt 16.27. O grande risco para aqueles que permanecem na displicência e descrença é que o Senhor virá num momento inesperado: "Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais, Lc 12.40. Creio que o Senhor está às portas e que estamos vivendo a profecia de Hebreus 10.37: "Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará".

4. Jamais podemos viver sem esperança. A vida do filho de Deus é visionária e seus valores melhores não estão no presente, mas sim no futuro quando haveremos de receber um corpo glorioso e o privilégio de estar para sempre na presença de Deus – "E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus", Ap 21.3.

 

CONCLUSÃO:

1. Como vimos, o noivado do homem com uma virgem, nos traz grandes lições de vida. Pudemos notar como este tipo de relacionamento nos fala de pureza - pureza em nosso relacionamento com Deus, com nossos irmãos de fé, além de pureza em nossos pensamentos, sentimentos e comportamento. Vimos também a questão do "compromisso". Assim como existe compromisso no noivado, devemos estar devidamente compromissados com o Senhor e o trabalho em sua obra. Outro fator observado foi a questão da esperança. Tanto o noivo, como a noiva ao firmarem o compromisso de noivado, anseiam e esperam pelo casamento! Assim também, como servos de Deus, vivemos na esperança. Muito do que cremos, ainda não recebemos, mas chegará o dia em que a fé será totalmente integralizada.

2. Sejamos compromissados na obra de Deus, na expectativa de que certamente seremos galardoados, quando se manifestar o Senhor. Vamos nos conservar "puros", aguardando com alegria o recebimento da "coroa de glória" – "E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória", 1 Pe 5.4.