A VISÃO DO CRISTO GLORIFICADO(1)

AP 1

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

1. A palavra "apocalipses", traz a idéia de "revelação", "tirar o véu". Indica também a idéia de revelar uma mensagem, a mensagem de Cristo a sua Igreja.

2. O livro de Apocalipse, pertence à classe de literatura conhecida como "literatura apocalíptica". No V.T., temos o Livro de Daniel, que também faz parte deste tipo de literatura. Uma das características destes livros denominados "apocalípticos", é que Deus é soberano e intervirá de modo catastrófico na história humana, para fazer sua vontade perfeita.

3. O conteúdo de Apocalipse, é mostrado através de visões no período em que João esteve preso e exilado numa ilha deserta no mar Egeu, chamada Patmos, Ap 1.9-10, "9 Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo. 10 Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta". A primeira visão relatada no livro, é a visão do "Cristo Glorificado". "VAMOS DESCREVER NESTA NOITE OS ASPECTOS DA VISÃO DO CRISTO GLORIFICADO":

I - SUA FORMA FÍSICA - HUMANA - FILHO DO HOMEM

V. 13, "E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro".

1. O título "Filho do Homem", aplicado a Jesus, expressa o fato de Deus ter assumido a figura humana. Em Jo 4.24, Deus é visto como sendo "Espírito": "Deus é Espírito...".

2. Em seu Evangelho, João descreve Jesus como o "Verbo", a perfeita revelação de Deus. Vejamos dois versículos importantes, onde aparece o termo:

a. Jo 1.1, "1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". A palavra "Verbo", vem do grego "logos" - logos, que pode ser traduzida por "Palavra". Aqui no Evangelho de João, temos a Palavra essencial de Deus, Jesus Cristo, como co-participante dos atos criativos de Deus na natureza. Os judeus estavam acostumados com este termo, pois fazia parte da cultura grega, além do que há registro que de Heráclito, filósofo da antiguidade tenha usado o termo por volta do ano 600 A.C.

b. Jo 1.14, "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade". Como "Verbo", Jesus manifestou a glória de Deus, vindo habitar entre os homens. A palavra "habitar", vem do grego "skenoo" - skenoo, que pode também ser traduzida por "tabernacular", "fixar residência".

3. É muito comum nos Evangelhos a expressão "Filho do homem", que é uma alusão clara a Jesus, como tendo assumido a forma humana. Vejamos alguns textos:

a. Mt 8:20, "Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Temos aqui a expressão grega "uios anthropos" - uiós anthropós, literalmente "filho do homem". Podemos dizer sem sombra de dúvidas que tal expressão descreve a natureza humana de Cristo, ou seja o fato dele ter-se feito homem em todos os sentidos, com todos os sentimentos humanos.

b. Um texto, entre muitos outros onde também aparece a expressão "Filho do Homem", relacionada a Cristo é: Mc 14:62, "Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.

c. Lc 9:26, "Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos".

4. Paulo também descreve esta particularidade de Cristo de uma forma muito clara em sua primeira carta a Timóteo, 1 Tm 2:5, "Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem".

5. Estes textos nos mostram alguns aspectos do ministério de Jesus, na qualidade de "Filho do homem", como a "chamada de alguns para o discipulado", sua "glorificação junto ao Pai", seu "juízo aos falsos discípulos", "sua obra de salvação".

5. Sim, Jesus se tornou homem para habitar entre nós e mostrar a glória de Deus!

II - SUA ROUPA TALAR E SEU CINTO

V. 13, "E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida (talar), e cingido pelos peitos com um cinto de ouro".

1. Vamos definir e identificar dois termos:

a. "Talar". Era uma roupa longa, que descia até aos pés. No livro do profeta Isaías, temos uma referência interessante às vestimentas de Deus, Is 6.1, "No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo". Estas referências descrevem a grandiosidade das vestimentas de Deus. Normalmente as vestes de uma pessoa diziam claramente quem era ela, sua posição social, status, se era rica ou pobre, etc. Deus como Senhor do Universo e Criador de todas as coisas, teria que manifestar de uma maneira contundente ao seu servo-profeta Isaías. É o que vemos também aqui no Livro de Apocalipse em relação a Cristo em sua aparição a João.

b. "Candeeiros, ou castiçais". Era um utensílio com pé de suspensão para alumiar, mediante a queima de óleo. Aqui simbolizam as Igrejas, Ap 1.20, "Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas". Certamente que nós, como Igreja de Cristo, devemos ser "luz", para alumiar a todos os homens, Fp 2:15, "para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo". O termo "luzeiros", vem do grego "fwsthr" - phoster, e significa "aquele que dá luz", "o alumiador", "brilho", "luz".

2. Notem a posição de Cristo no meio dos "candeeiros". Já que os "candeeiros", são as igrejas, sua no meio delas, declara-o como poder central, cabeça, Cl 1.18, "Ele é a cabeça do corpo, é a cabeça da Igreja". Em outras palavras, Cristo é o Senhor da Igreja, seu dono, proprietário, ao passo que nós somos seus servos. É por esta razão que o apóstolo Paulo se refere à sua pessoa em muitos textos da Palavra de Deus, como "servo de Jesus Cristo", Rm 1:1 "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus". A palavra "servo" ("doulos" - doulos no grego), indica o "escravo", o "criado", o "dedicação exclusiva a outrem".

4. A roupa "talar e seu cinto", declaram a sua autoridade real, sua majestade e sacerdócio:

a. Roupas.

- Devemos aqui fazer uma alusão às vestes lindas do sumo sacerdote, sob a ordem levítica, Lv 8.7-9, "7 Vestiu a Arão da túnica, cingiu-o com o cinto e pôs sobre ele a sobrepeliz; também pôs sobre ele a estola sacerdotal, e o cingiu com o cinto de obra esmerada da estola sacerdotal, e o ajustou com ele. 8 Depois, lhe colocou o peitoral, pondo no peitoral o Urim e o Tumim".

- No Calvário, Jesus perdeu suas roupas para os jogadores, Mc 15.24, "Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um".

- A mesma roupa que havia ficado branca por ocasião da transfiguração, Mt 17.2, "E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz".

b. Cinto.

- Quando o cinto está sob os lombos indica serviço proeminente, Jo 13.4-5, 4,"levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. 5 Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido". Porém, quando está sobre o peitoral (como na visão de João), traz o sentido de Juízo sacerdotal dignificado.

- Por ser de ouro, o cinto significa a divindade de Cristo e sua realeza justa. Sim o justo Rei está pronto para os grandes atos de justiça e Juízo. O livro de Apocalipse, é uma descrição destes atos de justiça de Deus. Vejamos alguns Juízos de Deus no Livro de Apocalipse, que vão assolar a terra:

b.1. O Juízo da história da Igreja, Ap 2-3. Em 1 Pe 4.17, temos: "Porque a ocasião de começar o Juízo pela Casa de Deus, é chegada".

b.2. O Juízo das nações rebeldes adoradoras da besta, Ap 4-16.

b.3. O Juízo do sistema idólatra terreno, Ap 7-18.

b.4. O Juízo da besta e do falso profeta, dos reis e dos exércitos no Armagedom, Ap 19.19-21, "19 E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército. 20 Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.21 Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes".

b.5. O Juízo da carreira do Diabo sobre a terra, Ap 20.1-3, 7-10, "Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. 2 Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; 3 lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo. 7 Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão 8 e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. 9 Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu. 10 O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.

b.6. O Juízo da terra rebelde depois da libertação de Satanás, Ap 20.7-9, "7 Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão 8 e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. 9 Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu".

b.7. O Juízo dos não salvos no Trono Grande e Branco, Ap 20.11-15, "11 Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. 12 Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. 13 Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. 14 Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. 15 E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo".

5. Não resta qualquer dúvida, a roupa talar e o cinto vistos por João representam os juízos de Cristo sobre a terra, do qual, nem mesmo Satanás e seus demônios não escaparão.

1ª Conclusão

1. Duas coisas vimos nesta noite em relação à visão de João do "Cristo Glorificado".

a) Ele viu Jesus em sua forma física. Sobre esta particularidade podemos deduzir o fato de que Jesus "se tornou homem", para poder cumprir o ideal de Deus na salvação do próprio homem. Somente um homem poderia cumprir as exigências divinas.

b) Ele viu as vestes e o cinto de Jesus. A simbologia sobre as vestes e o cinto de Jesus em sua glorificação, é pertinente à gloria que é devida a Cristo, e também o seu poder para julgar todas as coisas, mas principalmente os atos do homem. Só existe uma forma de se escapar do juízo de Cristo. "Quem nele crê não é julgado, mas quem não crer já está condenado", Jo 3.18.

2. Vamos responder ao Cristo Glorificado com a entrega total de nossas vidas a ele. Lembre-se que quando o viu, João caiu a seus pés "como morto", V 17.