IGREJA DE TIATIRA, AP 3.18-29

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

"18 Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido: 19 Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. 20 Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. 21 Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. 22 Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. 23 Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras. 24 Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; 25 tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. 26 Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, 27 e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; 28 assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. 29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas"".

INTRODUÇÃO:

1. A cidade de Tiatira ocupava uma posição importante no sistema rodoviário de Roma, uma vez que estava situada na estrada que vinha de Pérgamo, a capital dos romanos. Era ligada também por estrada à Laodicéia, e daí para as províncias orientais. Constituía-se numa importante junção entre estas cidades para o livre comércio.

2. Comercialmente, Tiatira era de grande importância, pois havia ali indústrias de tinta, roupas, artigos de cerâmica, além de apetrechos de bronze. Mas politicamente, a cidade não conseguiu se destacar, sendo considerada a cidade de menor influência política dentre todos as que receberam cartas.

3. Assim como nas cidades já vistas, havia também em Tiatira templos a vários deuses, como por exemplo: Apolo, Tirimânios, Artemis, além de um santuário a Sambate, uma sibila (uma espécie de oráculo ocidental). Embora a igreja cristã tenha tido progressos em seu início, pouco a pouco o Montanismo (uma seita anticristã, que dava ênfase à segunda vinda de Cristo, com profecias falsas. Montano, o fundador do movimento contava com o auxílio de duas profetizas – Prisca e Maximila), foi ocupando grandes espaços quase chegando a sufocar a igreja. A igreja de Tiatira desapareceu completamente no século II.

4. Um fato digno de nota é que a primeira convertida na Ásia foi uma mulher de Tiatira, Lídia, que provavelmente fosse uma agente da indústria têxtil, uma vez que nós a vemos em Filipos vendendo suas mercadorias de púrpura, suas lãs tingidas, At 16.14, "Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia".

I – IDENTIFICAÇÃO

1. Cristo se apresenta à igreja de Tiatira como "O Filho de Deus, que tem olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao latão reluzente". Ele é assim infalível (Filho de Deus), onisciente (olhos penetrantes como chama de fogo) e forte (pés como de latão reluzente) no serviço.

a) Estes olhos como "chama de fogo" simbolizam o poder que o Senhor Jesus tem como Deus, para penetrar até mesmo os pensamentos e as profundas intenções do coração do homem. Os olhos de Jesus aqui simbolizam:

- O seu poder para penetrar as profundezas de todas as coisas. Nada poderá escapar aos olhos do Senhor. Ele conhece todas as situações, e nada fica escondido diante dele. Daniel nos fala deste poder que Deus tem para revelar as coisas ocultas, "Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz", Dn 2.22. A palavra "revelar", vem do grego "apokaluqiv" - apokalupsis, que significa "descobrir", "fazer conhecido", "descobrir aquilo que era desconhecido". Diante de Jesus nada pode ficar encoberto. Seus "olhos como chama de fogo", penetrarão o profundo, o escondido, trazendo tudo à mais clara luz. Nada fica encoberto aos seus olhos, Hb 4.13, "E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas s coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas".

- O seu poder para julgar. Evidentemente que como humanos podemos até ver uma determinada situação, mas sem uma capacidade de julgar retamente. Jesus com seus olhos chamejantes, pode estabelecer juízo reto e verdadeiro sobre todas as situações humanas, Ap 19.11-12, "11 Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça.12 Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo".

b) "...e os pés semelhantes ao bronze polido". Simbolizam seu julgamento, "E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios", Ap 14.20. Esta passagem da Escritura mostra o julgamento de Deus contra as nações na batalha do Armagedom. Os exércitos das nações serão pisoteados pelo homem dos pés "semelhantes ao bronze polido". Outro fato interessante neste texto é a figura do lagar (lugar onde as uvas eram pisoteadas para se extrair o suco). Lembre-se que o vinho é símbolo de sangue! Aqui não é o sangue de Cristo e sim o sangue das nações, que escorrerá da mesma forma que o suco escorria quando as uvas eram espremidas pela pressão dos pés.

2. Portanto, a igreja devia prestar atenção às suas palavras. Ele conhece perfeitamente as condições da igreja e, por isso, está qualificado para dar sua opinião e para julgar.

II - Louvor (2:19)

1. Ele reconhece as virtudes deles para, a seguir, elogiá-los. Conhece:

a) As obras deles, seus serviços prestados a Deus;

b) O amor deles, que é a base de suas boas obras, "E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará", 1 Co 13.3;

c) A fé, a sua fidelidade à religião cristã;

d) O seu ministério, que revela o amor em atividade, ministério para com os que estão em necessidade;

e) A paciência deles e habilidade em conservar o bom ânimo e a paz de que gozam mesmo sob a pressão da perseguição.

f) Ainda em acréscimo a isto, louva-os por terem progredido em suas obras — "as tuas últimas obras são mais do que as primeiras".

2. Na aparência, pois, trata-se duma boa igreja. Realizam a obra do Senhor com regularidade e fidelidade, com amor e paciência manifestas. Estavam "crescendo na graça" à medida que progrediam. Se a carta findasse neste ponto, poderíamos considerar esta uma igreja ideal. Mas tal não se dá. A carta prossegue, e vemos que havia nela males que precisavam ser anotados e condenados.

III - Queixa e Julgamento (2:20-23)

1. Queixa-se o Senhor de que a igreja está dando guarida e espalhando a heresia — "toleras a mulher Jezabel". A verdadeira igreja não é acusada do crime de heresia, mas havia dentro dela membros que fechavam os olhos para ela.

- Quanto à mulher Jezabel e ao seu recado, têm aparecido muitas interpretações.

a) Alguns acham que se trata da mulher do pastor, por aparecer no original a palavra grega gune - giné, que pode significar "esposa"; isto se dá muitas vezes em o Novo Testamento. Não há nenhuma outra base para essa teoria, e por isso parece não satisfazer.

b) Outros exegetas acham que aqui há apenas uma alegoria para qualificar a heresia. Parece que o melhor caminho é admitir que havia lá uma mulher pervertida que dizia haver recebido de Deus alguma revelação mística especial. O versículo 24 parece sugerir isto.

3. Podia ser que a mulher se chamasse mesmo Jezabel; mas parece que o escritor dá esse nome à mulher por causa do caráter dela. O nome "Jezabel" estava associado à personagem do Velho Testamento, mulher do rei Acabe que foi um terror para o povo de Deus daqueles dias. Um texto que descreve de maneira clara o comportamento de Jezabel, mulher de Acabe e figura da prostituição religiosa do povo de Deus é o seguinte: "25 Ninguém houve, pois, como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau perante o SENHOR, porque Jezabel, sua mulher, o instigava; 26 que fez grandes abominações, seguindo os ídolos, segundo tudo o que fizeram os amorreus, os quais o SENHOR lançou de diante dos filhos de Israel".

a) Esta Jezabel de Tiatira, estava enganando os cristãos e induzindo-os à fornicação, fosse esta literal, como fruto dos ensinos gnósticos, fosse espiritual, por ser a quebra de votos feitos a Deus.

b) Este reflexo duma idéia contida no Velho Testamento, especialmente no livro de Oséias, parece ser o caso real.

4. O fato é que a igreja não podia continuar permitindo que aquela mulher continuasse a causar aquele dano aos crentes.

a) Caso isto continuasse, a igreja marchava para a ruína, e com ela os seus seguidores, perecendo no pecado que praticavam, daí a razão dos Vs. 22-23, "22 Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. 23 Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras".

b) Isto seria para provar que Deus ainda domina todas as coisas e julga os homens segundo as suas obras, Vs. 23, "Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras".

IV - A Promessa (2:24-29)

1. O Senhor, aos que vencerem:

a) promete não sobrecarregá-los com obrigações espirituais maiores do que as que já têm, nem com deveres adicionais, por meio de revelações gnósticas especiais, Vs. 24, "Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós". Devem esses cristãos conservar-se fiéis naquilo que ele já lhes deu, Vs. 25, "tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha".

b) Promete, ainda, dar autoridade sobre as nações, Vs. 26-27, "Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro". Como cristãos, serão completamente vingados diante daqueles que agora os perseguem. O "reger com vara de ferro" simboliza a certeza de sua. justificação e triunfo com Cristo.

c) Promete ainda, ao vencedor, "a Estrela da Manhã" — sua direção e liderança na hora escura das tribulações e provações, Vs. 28, "assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã". Quem tenha com freqüência observado a beleza e o brilho da Estrela da Manhã, na hora escura que precede o alvorecer, perceberá a preciosidade desta promessa. O cristão poderá muitas vezes caminhar nas trevas de inúmeras provações e perplexidades, mas ser-lhe-á dada a Estrela da Manhã para guiá-lo. Ele deve recusar ser guiado erradamente pelo gnosticismo, e esperar "a Estrela da Manhã".

CONCLUSÃO:

1. De tudo o que vimos, o fato mais grave relacionado com a igreja de Tiatira, é que ela estava permitindo que o erro doutrinário e a prostituição religiosa alcançasse vantagem em seu meio. Jezabel e suas heresias tinham livre curso ali.

2. Da mesma forma que Jesus recriminou o comportamento da Igreja em Tiatira, também recriminará qualquer Igreja que não cuide bem da Palavra. Precisamos defender a qualquer custo "a fé que uma vez foi dada aos santos", Jd 3, e afugentar todos aqueles que em nome de Jesus ficam trazendo falsas profecias e enganando o povo de Deus.

3. Não nos esqueçamos que aqueles que forem fiéis, o Senhor dará a "Estrela da manhã", além de conceder "autoridade sobre as nações", onde teremos oportunidades para julgarmos aqueles que perseguiram o povo de Deus, com leis injustas e discriminatórias.

Esboço extraído do Livro "A Mensagem do Apocalipse" de Ray Summers, com notas acréscimos e supressões pelo Pr. José Antônio Corrêa.