SARDES, MORTA OU VIVA

AP 3.1-6

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

"1 Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. 2 Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. 3 Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti. 4 Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas. 5 O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. 6 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas".

1. Por muitos anos, Sardes foi a principal cidade da Ásia Menor. No princípio da dominação romana, era de pequena influência, mas ainda, muito se orgulhava de seu passado histórico.

2. A cidade tornou-se muito próspera. Parte de sua riqueza, vinha do ouro extraído do Rio Pactolo, que atravessava a cidade. Originalmente, Sardes era uma fortaleza, mas Ciro, Rei da Pérsia, derrotou Sardes e outras cidades das redondezas. Isto ocorreu no ano 549 a.C.

3. Nos tempos romanos, mais precisamente no ano 17 d.C., a cidade foi devastada por um terremoto, mas Tibério ajudou generosamente em sua reconstrução. Este ato de Tibério, ingressou Sardes no chamado "Culto ao Imperador", entrando em competição com Esmírna, pelo privilégio de representar as cidades asiáticas e como o principal centro deste culto idólatra, lá foi erguido um templo a Tibério.

4. Plínio, historiador romano, nos informa que a arte de tingir lã, foi inventada em Sardes. Também, surgiu ali uma grande indústria de laticínios, além de vários metais que lá eram extraídos, o que aumentava em muito suas riquezas. Hoje existe no local apenas uma pequena aldeia de nome "Sarte". Foi a esta Igreja que Jesus endereçou sua quinta carta. Vejamos seus termos:

I - IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR

VS. 1A.

"...aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas".

1. Cristo se identifica como "o que tem os Sete Espíritos de Deus". Esta expressão é semelhante à expressão encontrada em Ap 5.6. Temos aqui a idéia de "visão", de "discernimento", de "Inteligência". Em seu relacionamento com sua Igreja, estas características de Cristo, dominam suas ações. Elas aludem à perfeição do "Espírito de Cristo".

2. Cristo se identifica como "aquele que tem as Sete Estrelas". Em Ap 1.20, temos a identificação das Sete Estrelas, como sendo os "Anjos das Igrejas". Cristo é apresentado como aquele que as segura em sua mão direita, Ap 2.1. Cristo controla os líderes de sua Igreja e traz poder a eles.

II - QUEIXA

VS. 1

"Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto...".

1. A queixa se expressa na seguinte forma verbal: "Tens nome de que vives, e estás morto". Na sociedade daquele tempo, ou até mesmo entre os crentes, Sardes era considerada uma Igreja viva. Até tinha evidências de um avivamento. Porém, aos olhos de Deus, havia lá muito material necrosado, morto. A Igreja estava morta espiritualmente. A palavra "morto", vem do termo grego "nekrov" – nekros, e significa literalmente "defunto", "aquele que deu o último suspiro", "inanimado", "inativo", "inoperante".

2. Assim são muitos crentes e muitas Igrejas. Muitas vezes, há neles uma "aparência" de avivamento, um barulho "santo", mas é só barulho, são só lampejos de um verdadeiro avivamento. Deus alerta seus filhos para que despertem:

Ef 5.14, "Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará". Nesta passagem encontramos Paulo advertindo a certos crentes, que dormem espiritualmente. Estão "mortos" em sua vida com Deus. Precisam despertar urgentemente!

Rm 13.11, "E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos". Esta passagem é semelhante a passagem de Efésios 5.14. São filhos de Deus que conhecem os fatos relacionados à volta do Senhor, mas vivem como se Cristo nunca fosse voltar.

III - CONSELHOS

VS. 2

"Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus"

1. A igreja é aconselhada a ser "vigilante e a confirmar as coisas que restam, que estavam para morrer". Na Igreja de Sardes, as poucas coisas que ainda viviam, já estavam à beira da morte, mas poderiam ser salvas, mediante uma pronta intervenção do Senhor da Igreja. A aparência e as formas estavam bem, mas precisavam ser trocadas pelo poder e pela dedicação.

2. Temos aqui também, um grande perigo. Muitos já morreram na vida cristã. Mas outros há que estão morrendo em sua passividade. É necessário interromper este "sono letal", esta "morte lenta", que atinge certo número de irmãos no seio da Igreja. A estrofe terceira do hino 164 de nosso cantor cristão, expressa muito bem esta verdade: "Muitos que corriam bem, já não mais contigo estão. Outros correm, mas também, frios e sem amor estão".

IV - AVISO

VS. 3.

"Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti".

1. O Senhor Avisa à Igreja que ela evite o desastre espiritual, retomando o verdadeiro conteúdo da Fé Cristã, como haviam recebido anteriormente. Precisavam retornar aos primeiros rudimentos e práticas cristãs. Se não fizessem isto, Cristo viria sobre a Igreja com Juízo e destruição.

2. Se não "vigiassem", Jesus viria como "ladrão", em hora de assalto. Temos aqui o uso de uma expressão alusiva à segunda vinda de Cristo, 1 Ts 5.1-6, "1 Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; 2 pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. 3 Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. 4 Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa; 5 porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas. 6 Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios".

3. Repentinamente, Cristo haveria de intervir nas ações malignas daquela Igreja, assim como virá para intervir no mundo por ocasião de sua segunda vinda.

V - LOUVOR

VS. 4

"Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas".

1. Em Sardes, havia umas poucas pessoas que "não contaminaram suas vestes". Não tinham participado do culto pagão, nem do mundanismo e corrupção daquela cidade e daqueles dias. Tinham permanecidos fieis ao Senhor.

2. Sempre há crentes que não se deixam contaminar pelas práticas mundanas, Dn 1.8, "Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se".

3. Em contra partida, há aqueles que se lambuzam nas sujeiras deste mundo até ao pescoço, Jd 8, "Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores". Notem a expressão "contaminam a carne". A palavra "contaminar", vem do grego "molunw" – moluno, e significa "poluído", "sujo", "imundo", "manchado". Esta palavra é usado no NT, para se referir àqueles que não se mantiveram puros em relação às contaminações pelo pecado; aquele que se sujou através da fornicação e do adultério.

4. Há, também, daqueles que evitam contaminações, mas caem noutras piores, Jo 18.28, "Depois, levaram Jesus da casa de Caifás para o pretório. Era cedo de manhã. Eles não entraram no pretório para não se contaminarem, mas poderem comer a Páscoa".

a) Note que incoerência! Estavam decretando a morte do inocente Filho de Deus, e ao mesmo tempo numa atitude hipócrita deslavada, não quiseram entrar no pretório (palácio e sede administrativa do governador), de medo de se contaminarem (esta contaminação era pelo fato deles entrarem onde havia gentios) a ponto de não poderem participar da Festa da Páscoa.

b) Estavam literalmente "coando mosquito e engolindo camelos", Mt 23.24, "Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!" Estavam sendo criminosos, e no entanto se preocupavam com as exterioridades das leis judaicas. Será que não procedemos da mesma maneira quando julgamos um irmão e fazemos pecados piores!

VI - PROMESSAS

VS. 4B, 5.

"...e andarão de branco junto comigo, pois são dignas. 5 O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos".

1. A este grupo, promete-se fazê-lo "andar de branco com o Senhor". Merecem a companhia do Senhor, por causa de sua pureza e lealdade. Sardes se orgulhava de seu comércio de tecidos coloridos, usados pelos mundanos; os vencedores receberiam vestidos brancos, símbolo de sua pureza, Ap 7.13-14, "13 Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? 14 Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro".

2. Eles também, "não teriam seus nomes riscados do Livro da Vida". Pode-se comparar esta expressão com os trechos de:

Êx 32.32, "Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste".

Sl 69.28, "Sejam riscados do Livro dos Vivos e não tenham registro com os justos".

3. Na antiga Nação de Israel, havia um registro dos cidadãos da cidade, da província, ou do país. Ter o nome em um daqueles livros, era prova de sua cidadania, com seus respectivos direitos e privilégios. Ter o nome apagado do livro, significava perda da cidadania e dos privilégios. Os vencedores, jamais teriam seus nomes apagados do Livro de Deus.

3. Jesus os confessaria diante de Deus. Temos aqui uma alusão óbvia ao trecho de Mt 10.32, "Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus".

CONCLUSÃO:

1. Quantos de nós aparentemente estamos vivos, mas dormimos o profundo sono letal? Muitos estão morrendo aos poucos. "Tens nome de que vives, mas estás morto".

2. Deus nos mostra a necessidade de voltarmos ao cristianismo dos primeiros dias de nossa vida em Cristo. Voltar aos primeiros rudimentos.

3. Há promessas aos vencedores:

a. Andar de branco com Cristo.

b. Não ter o nome riscado do Livro da Vida.

c. Jesus estará confessando o nome dos vencedores diante de Deus, o Pai.

Esboço extraído do Livro "A Mensagem do Apocalipse" de Ray Summers, com notas acréscimos e supressões pelo Pr. José Antônio Corrêa.