CASADOS, PORÉM SOLITÁRIOS

Autoria*

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho: se um cair, o outro levanta o seu companheiro. Mas ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá quem o levante. Também se dois dormirem juntos, eles se aquentarão. Mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão. O cordão de três dobras não se quebra tão depressa”, Ec 4.9-12.

 

O texto que abre a nossa reflexão foi escrito por Salomão, filho do rei Davi, e que foi considerado o homem mais sábio de todos os tempos. A passagem serve-nos de exemplo, quando vemos Salomão nos falar de um relacionamento consistente entre duas pessoas, com alvos e propósitos definidos. Mas quando olho para o texto me pergunto: por que ele não é realidade na vida de muitos casais? O que estamos presenciando em nossos dias é, infelizmente, o oposto destas palavras proferidas por Salomão.

 

Veja bem que o texto eclesiástico mostra ao homem a importância que tem o casamento em sua vida: “melhor é serem dois do que um”. O valor do matrimônio e a constituição de uma nova família estão expressos em todas as letras e devem ser o alvo primeiro de todo cristão. E por quê? Porque juntos resistirão aos dias maus, às gigantescas ondas que se alevantam, às tempestades horrendas e à solidão. Porém é impressionante como, mesmo depois de casados, muitos casais vivem solitários dentro de um mesmo universo e passam, individualmente, a querer lutar contra os obstáculos do dia-a-dia e a buscar os seus próprios interesses.

 

As casas de muitos casais se tornaram como as grandes metrópoles brasileiras: povoadas, porém, focos de grande solidão. São pessoas que vivem debaixo do mesmo teto, fazem as suas refeições juntas, dormem lado a lado na mesma cama, fazem sexo quase que diariamente, caminham de mãos dadas, entretanto, mantêm uma distância emocional enorme. Conversam, mas não se comunicam. Moram juntas, mas ainda não constituíram o verdadeiro lar. E esse paradoxo tem refletido negativamente na vida de muitos solteiros, que dizem: “se muitos casados vivem solitários, então é melhor me sentir solitário sozinho”. Alguém já escreveu que a pior solidão é a que se manifesta entre duas pessoas.

 

Creio, como conselheiro familiar, que o casamento foi o antídoto criado por DEUS para combater a solidão: “Não é bom que o homem esteja só. Far-lhe-ei uma adjutora que lhe corresponda”, Gn 2.18. O objetivo de DEUS, como vimos, é não tornar o homem solitário. Então vamos aqui levantar alguns fatores porque isso acontece em muitos casamentos hoje em dia e, também, “receitar alguns remédios” para combater esse vírus, que tem destruído casamentos.

 

1. Ideia errada de casamento

 

Muitas pessoas nutrem o desejo de se casarem, crendo, infelizmente, que o casamento é uma etapa da vida isenta de tribulações e dificuldades. Quando eu era menor ouvia muito dizer que “casar é viver um mar de rosas”. Essa ideia equivocada de casamento é frustrada quando fortes obstáculos surgem na vida do casal, o qual, por não ter construído antes uma base conceitual real do matrimônio, logo deseja “pendurar as chuteiras”. Observe o versículo: “as muitas águas não poderiam apagar esse amor nem os rios afogá-lo (...)”, Ct 8.7. “Não poderiam...”, ou seja, podem, sim, destruir esse amor...

 

A responsável por oferecer essa base aos jovens namorados e noivos é a própria igreja, o ministério de família. Mas, infelizmente, em muitas denominações o tema família está em segundo e terceiro planos, ofuscando a importância do tema para a vida espiritual do cristão. Casamento, consciente das dificuldades e do interesse de um ajudar o outro, é maravilhoso; mas não é um mar de rosas.

 

2. O casal desconhece o papel de cada um no contexto familiar

 

Como disse anteriormente, depois de casados, e depois da lua-de-mel, e depois dos primeiros meses, aí vem a realidade de uma maneira mais clara e decisiva sob as vistas, meio frustradas, do homem e da mulher. Cada qual procura resolver do seu jeito os problemas que vão surgindo. Algumas vezes até conseguem. Na maioria, entretanto, esses problemas vão se tornando uma “bola de neve” e se juntando a outros grandes problemas. As responsabilidades na vida do marido e da esposa se misturam. Um termina, inconscientemente, assumindo o papel do outro. E para não querer apresentar à igreja uma imagem de derrotados; de que o casamento fracassou, simplesmente se isolam em suas torres de marfim.

 

São casados; são felizes, apenas na aparência. É uma vida de casados de hipocrisia, que, com certeza, não conseguirá ir muito adiante. A Bíblia diz claramente que a esposa é a ajudadora do marido, e que este é o cabeça do lar, aquele que responde sabiamente pelas decisões finais. DEUS não casa pessoas e os entrega ao relento. DEUS é Pai zeloso: une e mostra todos os caminhos para a felicidade...

 

3. A dificuldade de conviver com as necessidades do outro

 

Cada pessoa possui necessidades emocionais, pessoais (profissionais, sexuais etc.) e espirituais. Mas DEUS planejou para que todas essas necessidades fossem supridas dentro de um contexto familiar. Quando um casal resolve se casar, dificilmente, pensa nas necessidades um do outro, ainda menos, em como supri-las, resultando numa infidelidade. Então, surge, na história do casal, uma “terceira pessoa”, que não necessariamente é um homem ou uma mulher, mas a busca incessante por um projeto pessoal, uma carreira, um sonho etc.

 

Ambos começam a lutar pelos seus sonhos de maneira individual, egoísta, e se afastam imperceptivelmente do sentido da unidade familiar. Muitos dos casos que tenho recebido em palestras e em atendimentos se referem à área sexual. Mas também já vi até filhos se tornarem o motivo desse distanciamento...

 

4. Bem, levantei apenas alguns fatores. Vejamos agora alguns conselhos:

 

a) nunca perca o sentido da unidade familiar. Embora seja natural que cada um tenha os seus próprios sonhos, mas estes não podem ser um fator desagregador do casal. Eles devem ser partilhados e correspondidos mutuamente;

 

b) o casal deve participar sempre que puder de congressos e encontros destinados à família. É uma maneira de reciclar, de inovar. A leitura de bons livros da área também ajuda bastante;

 

c) pense que sempre há solução para os problemas. Algumas vezes as dificuldades se tornam eternas porque não sabemos como lidar com elas. Então, aqui, deixo como alternativas o diálogo, a cumplicidade, a dedicação, a paciência, a amizade e, enfim, o maior de todos, o verdadeiro Amor. Sem DEUS o casal não pode chegar a lugar algum. Foi por isso que no texto de abertura de nosso estudo, o autor fala num cordão de três dobras, ou seja, a presença de JESUS na vida do casal. A terceira dobra é JESUS solidificando a relação a três. Onde JESUS está não há cordão que se arrebente nem lar que viva em solidão. Ainda que o casal tenha toda a instrução da ciência; dos homens; sem JESUS de nada adianta. Veja o que escreveu o apóstolo Paulo: “Agora permanecem estes três: a fé, a esperança e o amor, mas o maior destes é o amor”, 1Co 13.13. Que DEUS os abençoe!

 

 *FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça” e “Antes que a Luz do Sol escureça”. Também é líder do Ministério Interdenominacional Recuperando Famílias para Cristo.